quinta-feira, 15 de março de 2012

6° Depoimento- Protesto de Portadoras com Endometriose

História de Carine

"Desde antes da menarca, por volta dos 11 anos de idade, já sentia cólicas muito intensas. Mas fui orientada que as cólicas no período menstrual são normais. "Toda a mulher tem essas dores!! Você que é muito exagerada!". Essa era a frase que eu mais escutava!! E justamente em meio as turbulências da adolescência, tinha ainda que passar por essas dores horríveis e que as mulheres mais experientes diziam ser normais.
Aos 14 anos minha ginecologista receitou pílula anticoncepcional para regular meu ciclo e nessa mesma época comecei a virar motivos de piada entre familiares, ao ler em uma revista feminina uma reportagem sobre doenças que causam infertilidade na mulher e uma dessas chamou atenção: ENDOMETRIOSE. Havia poucas informações sobre a doença, mas a principal estava lá - Sintoma comum nas portadoras: "Cólicas intensas que podem surgir inclusive fora do período menstrual". 

Após o inicio da pílula anticoncepcional, as cólicas diminuíram significativamente. Eu, com outros tantos conflitos a serem resolvidos na minha conturbada juventude, acreditava que estava protegida o suficiente com a pílula. Entre os conflitos e a vontade de “curtir a vida”, não utilizei a devida proteção (preservativos) nas relações sexuais durante algum tempo. Esta atitude insana (hoje tenho consciência plena disso), ocasionou uma Doença Inflamatória Pélvica (DIP) em estágio bem avançado. Quando encontrei um médico capaz de desconfiar do problema, eu já não ficava mais em pé direito de tanta dor!! Desmaiei algumas vezes e passei em vários plantões, onde recebia medicação para dor e era mandada embora sem maiores investigações, até que um dia uma conhecida resolveu intervir e conversar com o médico dela para me atender.







Ainda hoje este médico significa um anjo em minha vida, pois se não fosse a boa vontade dele, que me atendeu em seu consultório particular por um valor irrisório e fez ultrassonografia por valor simbólico, acredito que não estaria aqui para contar. Pelo SUS, nada consegui, nenhum nem examinava! Ultrassonografia? Só particular, apesar dos meus apelos de dores fortíssimas e corrimento intenso devido a DIP. Passei em pelo menos 5 médicos do posto de saúde local e todos me receitavam o tradicional Buscopan*. Este médico-anjo, na verdade trabalha para o SUS na cidade, mas em sistema de plantões internos hospitalares. Assim me indicou o dia que seria do seu plantão, caracterizou meu caso como emergência, e no dia indicado fez a vídeolaparoscopia pelo SUS. Um daqueles cinco profissionais que eu havia passado no posto de saúde, irônico me falou na época: "Por R$ 12,50, valor que o SUS paga por um procedimento cirúrgico, eu nem saio de casa!! Não paga nem a gasolina! Ainda bem que tu achastes um salvador para fazer isso!”. Nesta cirurgia estava cheia de aderências, devido ao estágio avançado da DIP e não foi possível visualizar focos de endometriose, que até foi cogitada pelo médico.
Estava com apenas 18 anos e com comprometimento do aparelho reprodutor feminino. Fui avisada que após essa cirurgia, quando quisesse ser mãe talvez não fosse muito fácil, devido às seqüelas deixadas pelo processo. Mas após esse susto passei a cuidar mais de mim! Fiquei sem dores durante 2 anos, tomava pílula mas também utilizava preservativos. Aprendi! Ainda bem!











Logo após conhecer meu esposo, mudei de cidade e eu resolvi fazer uma pausa e ficar um mês sem tomar anticoncepcional. Bastou um mês sem a pílula para as dores voltarem, mas eu ainda insisti e fiquei mais um mês e procurei um novo ginecologista. Logo de primeira ele já desconfiou da Endometriose. Fez Ca 125, alterado! Ultrassonografia, algumas alterações....Solução? Nova vídeo para achar os focos e cauterizá-los! Resisti e ainda tentei voltar a tomar AC para tentar amenizar as dores mas elas não diminuíram. Fui então para a segunda cirurgia aos 21 anos. Resultado: Endometriose moderada com vários focos no ovário esquerdo e na parte esquerda do útero. O Doutor indicou na época tentar engravidar, logo que cessasse o efeito das 6 injeções de Lupron 3,75mg.*



Após oito meses de suspensão menstrual pela medicação, preferia os efeitos do Lupron às dores, voltei a menstruar e já tive cólicas leves no primeiro ciclo, consideradas pelo ginecologista "da vez" como normais para o “meu tipo de problema”. Tentei engravidar durante longos 10 meses. Era uma decepção por mês, pois o ciclo estava desregulado e sempre surgia a esperança de estar grávida, o que não acontecia. Além de não engravidar as dores só pioraram e o Ca 125 só aumentava. Solução? Mais 6 meses de Lupron.


Já estava completando 24 anos e fissurada num sonho que poderia deixar para depois ou pelo menos achava que poderia. Decidimos então (eu, meu marido e o ginecologista) que eu iria bloquear a menstruação com uma pílula continua. Sinceramente naquela ocasião, acredito que foi a melhor decisão. Fiquei encantada de poder ser uma mulher normal novamente, não precisar ficar contando com a paciência e piedade das pessoas o tempo todo. Sim, porque as pessoas nos vêem com um misto de incredulidade e compaixão, como se perguntassem: "será que é possível ter tantas dores assim?"
Bom, nessa nova fase de “mulher normal” fui estudar, sonho antigo, interrompido por motivos diversos, cresci  e aprendi muito. Nesse processo meu casamento também se transformou em algo grandioso, não imagino minha vida sem meu marido. Formamos uma família feliz! Ops...para ser uma família feliz falta um filho, pelo menos um!

Aos 27 anos parei com o Cerazette. Pensei em fazer o que fazem as mulheres normais: deixar nas mãos de Deus, e quando tiver que ser, será! Entretanto logo no primeiro ciclo já tive a lembrança de que não era uma "mulher normal". Ainda esperei mais dois ciclos e no terceiro voltei a tomar o AC. 
Perto de completar 30 anos, já preocupada, procurei  um especialista em endometriose onde após um exame clinico, nenhum ginecologista havia encontrado o lugarzinho exato da minha dor como este encontrou, detectou um foco de endometriose profunda e me indicou fazer uma ultrassonografia com preparo intestinal. No exame foi detectado uma adenomiose, alem do foco de endometriose profunda. Para completar tive que fazer a temida histerossalpingografia que também demonstrou uma leve alteração nas trompas. Porém eu já havia parado com Cerazette há 2 meses e não tinha dores significativas, o que nos animou a tentar uma gravidez natural por algum tempo. 
A alegria durou pouco. No quarto ciclo, as dores apertaram e no quinto fui obrigada ir para o PS, pois o Toragesic* não passava a dor. Solução? Outra videolaparoscopia, desta vez com o especialista. Até fazer a cirurgia? Voltar a tomar Cerazette para tentar diminuir a dor.
Enquanto isso já havia marcado uma consulta com um especialista em reprodução humana, queria outra opinião, e uma avaliação das possibilidades de um auxílio para realizar o sonho de ser mãe. O médico de reprodução, já não compartilha da mesma opinião e acredita que eu poderia fazer um FIV direto antes de fazer a vídeo. Solicitou vários exames para certificar-se, já peguei os resultados e tô no aguardo da consulta de retorno. 
Porém minhas dores não cessam, já estou tomando a terceira cartela de AC, to tomando Uxi amarelo* e Unha de gato* e tentando tudo que aparece para ver se ameniza mas, não se passa um dia sem que eu tenha dor. Ate minha postura esta afetada, pois devido as dores abdominais constantes estou sempre com a “coluna torta”. E o emocional? Fica um trapo, novamente as pessoas no trabalho e os amigos me vêem e perguntam: “Mas de novo com dor?”

Bom, depois de conversar com algumas amigas virtuais que tiveram experiências parecidas, tive a opinião unânime de que deveria fazer a vídeo antes da tentativa de FIV. Por isso, já marquei uma consulta com o médico especialista em endometriose, para avaliar os novos exames e talvez marcar essa vídeo.
Preciso agradecer muito a Deus pela luz oferecida a todas as companheiras de luta, que mantém as informações atualizadas nas comunidades de Orkut, Facebook e Blogs. Afinal, esse médico especialista em Endometriose foi uma indicação do Orkut. Espero em breve poder contar para vocês um final feliz para esta historia. Assim como espero todos os dias ler uma notícia feliz de uma endoamiga.
Peço a Deus que continue nos dando força para seguir em frente em busca de melhor qualidade de vida e da realização dos nossos sonhos!!!"
* As medicações citadas só podem ser usadas com prescrição e recomendação médica.
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Carine, obrigada por confiar na gente e ter contado um pouco da sua história, não apenas com a Endometriose, mas também com a DIP; pra que sirva de alerta para outras  mulheres com vida sexual ativa. 
Através do seu depoimento, a gente pode ver que ainda existem, sim, médicos com os quais podemos contar nos momentos de dificuldade, são poucos, mas eles existem. Porém, percebemos o quanto é necessário mudar a saúde pública do nosso país, pois, ainda hoje as mesma dificuldades que você encontrou no passado são vistas e é preciso dar um basta nessa situação. 
Assim como a incompreensão das pessoas, até mesmo dos familiares e amigos, em relação as nossas dores e doença.   
Estamos na torcida para que em breve você consiga realizar o sonho da maternidade! 
Conte sempre conosco, querida! 


Caso você também queira dividir conosco uma situação relacionada a endometriose, mande seu depoimento para endometrioseprotesto@gmail.com


Lembrando sempre que juntas somos mais fortes!!!

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