Esses dias recebi um comentário de uma portadora dizendo: - "Como é difícil encontrar um especialista em endometriose!" De fato! Esta é uma das queixas mais frequentes entre as portadoras. Fiquei pensando sobre esta dificuldade e cheguei à conclusão de que alguma coisa está errada.
Raciocinem comigo: quem trata de endometriose é o ginecologista, correto? Se uma mulher sente cólicas incapacitantes, especialmente à época da menstruação, ou se não consegue engravidar; ela não vai correr atrás do clínico geral, mas sim do ginecologista, é claro! E supondo que esta mulher tenha um plano de saúde, não terá a menor dificuldade em encontrar e marcar uma visita com este médico. Basta abrir o livrinho do convênio na relação de "médicos ginecologistas" que terá à disposição, no mínimo, uns 50 ginecologistas ou mais (só no meu plano de saúde, contei mais de 300!). É óbvio que na rede pública não é tão simples encontrar e marcar uma consulta com um ginecologista, porém existem médicos disponíveis para o atendimento às mulheres, tanto em hospitais, como nas unidades básicas de saúde.
Pois bem. Considerando que a Ginecologia é uma especialidade médica que trata de doenças do sistema reprodutor feminino, ou seja, útero, vagina e ovários; espera-se que uma patologia como a endometriose possa ser diagnosticada e tratada por estes médicos com precisão, correto? Errado!
O que temos visto acontecer, de acordo com os vários relatos das portadoras, são dois problemas gravíssimos relacionados ao atendimento de alguns médicos ginecologistas:
1º) Total Desconhecimento dos Sintomas Clássicos da Endometriose:
Infelizmente, por não ser médica, não pude ter o privilégio de participar de uma aula sobre ginecologia, porém confesso que gostaria muito de saber o que é ensinado nas aulas sobre "Cólicas Menstruais". A impressão que eu tenho, a partir da minha própria experiência e dos relatos das portadoras, é que nestas aulas os aspirantes a médicos ginecologistas aprendem que, de forma geral, "sentir cólica é normal". Assim, se uma mulher com seus vinte e poucos anos disser ao médico que sente cólicas que a impedem de ir trabalhar, ele prontamente responderá: "É assim mesmo. Sentir cólica é normal. Tome um analgésico, faça uma compressa com água quente e pegue aqui o seu atestado". Certamente, ela confiará no médico e continuará sofrendo com as cólicas, achando que na verdade, está ficando louca e que as dores que ela sente são fruto da sua imaginação. Isto não existe!
Todas nós sabemos bem qual é o resultado deste tipo de avaliação do ginecologista: anos e anos sofrendo de cólicas "normais", para depois descobrir que na verdade a culpada era a endometriose, e que tendo demorado para ser diagnosticada, gerou, também, a infertilidade. Tarde demais!
Claro, não vamos generalizar. Nem toda cólica é endometriose. É verdade. Mas, como saber quando é e quando não é endometriose? O médico não pode brincar de "minha mãe mandou eu escolher esta daqui" para dizer qual paciente tem endometriose e qual não tem. Ele precisa pedir exames e, principalmente, precisa saber realizar um bom exame clínico, com uma boa anamnese! Sabe-se que muitas portadoras de endometriose podem ser diagnosticadas durante a própria consulta com o médico, através do exame de toque e de todas as informações possíveis sobre a dor que sente.
Ainda assim, se pudesse existir um protocolo que obrigasse o médico ginecologista a solicitar determinados exames todas as vezes que suas pacientes se queixassem de cólicas menstruais, com certeza, várias mulheres seriam poupadas do pesado sofrimento que a Endometriose causa. Seria quase uma prevenção! E não estou falando de mandar todas as pacientes para a videolaparoscopia não. Não é isto. Hoje, temos disponíveis exames de imagem que são excelentes para o diagnóstico da endometriose, e é claro, pode-se dosar também o CA125 para compor o raciocínio, pois é um exame simples e fácil de fazer, apesar de pouco preciso.
O que não pode mais acontecer é o descaso frente à queixa de cólica menstrual, atrasando o diagnóstico da endometriose em 8 ou 9 anos, prejudicando a qualidade de vida da paciente e, muitas vezes, o seu sonho de engravidar. Não é justo!
2º) Dificuldade em Encontrar o "Tal" Especialista.
Depois de muita luta para conseguir uma hipótese diagnóstica, começa a verdadeira peregrinação. Sim, pois o que reivindicamos do médico, no parágrafo acima, é que simplesmente saiba diagnosticar a endometriose. Daí a exigir que ele saiba tratar a doença, creio que seja pretensão demais. Tem ginecologista que foge da portadora de endometriose, como um rato foge de um gato! Chega a ser engraçado! É como se o nosso diagnóstico já viesse com um complemento: "Endometriose = paciente problema, fuja dela".
Bom, sabemos que existem mil e uma patologias ginecológicas problemáticas em termos de tratamento, mas a Endometriose, sinceramente, não é para qualquer um. Muitas vezes, a doença requer tratamento cirúrgico reparador, ou seja, é preciso ser muito bem treinado para fazer aqueles três ou quatro furinhos na barriga da mulher, enchê-la de gás, e começar a cortar os nódulos, sem lesionar nenhum órgão. É um trabalho de "mestre", aliás, é um trabalho de uma "equipe de mestres".
É claro que todas nós queremos o melhor atendimento, nós merecemos isto. Mas, aí é que está o problema. Aliás, o problema mesmo só está começando. Afinal, naquele livrinho do plano de saúde não vem discriminado qual médico é capaz de tratar a endometriose e qual não é. Sabe o que acontece? Vou confessar um segredo! Muitas portadoras pegam nome por nome do livrinho, digitam no "Google" e tentam descobrir se há algum vínculo entre o nome do médico e a endometriose. Se houver, ela marca um "x" ao lado deste médico, senão ela o risca da lista. Parece engraçado? Mas, não é não! Isto é muito triste. Pior é quando nenhum dos 300 médicos tem alguma relação com endometriose! Daí, a portadora começa a se desesperar. E passa a procurar pelos "médicos estrelas", aqueles que brilham distantes de nós, lembram? Pois bem, para desfrutar do brilho deles é preciso desembolsar muito, muito dinheiro. E aí sim, a história fica triste!
É uma pena que tenha que ser assim. Na minha humilde opinião de portadora de endometriose, todos os médicos formados em ginecologia deveriam saber diagnosticar e tratar a doença, isto inclui também ter mais "mestres" em Videolaparoscopia. Afinal, é um absurdo termos 300 ginecologistas num livrinho do plano de saúde e só sete ou oito serem capazes de tratar uma doença tão ginecológica!
Para finalizar: sabe o que respondi à afirmação feita pela portadora que comentei no início desta postagem?
"Amiga, é mais fácil encontrarmos uma agulha no palheiro que um especialista em endometriose! Portanto, se você encontrar o seu, agarre-o e não o solte mais. Este médico é peça rara e está extinto no mercado!"
Luciana T. G. Diamante
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